Para si, preocupar-se é um hábito adquirido, mas imagine que alguém que tenha crescido na selva e nada saiba sobre a vida moderna convencional se aproxima de si e pergunta:
“Como faço para aprender a preocupar-me?”. Evidentemente, já se preocupa espontaneamente há anos, mas como ensinaria alguém a preocupar-se? Como escreveria um livro de regras sobre preocupação?
Primeiramente, teria de apresentar boas razões pelas quais precisa de se preocupar. Quais poderiam ser? Que tal: “A preocupação motiva-me” ou “A preocupação ajuda-me a resolver os problemas” ou “A preocupação impede que eu seja apanhado de surpresa”? Estas parecem excelentes razões.
Em seguida, pode apresentar algumas ideias sobre quando começar a preocupar-se. O que vai desencadear essa situação experiência? Poderia dizer: “Quando algo mau acontece”, mas esse realmente não é o caso, pois preocupamo-nos com coisas más que ainda não aconteceram. Ou poderia dizer: “Quando algo mau está prestes a acontecer”. Mas como saberia se isso está prestes a acontecer? Ainda não aconteceu, e quase tudo com que se preocupa provavelmente nunca aconteceu. Poderia dizer: “Preocupe-se com coisas que possa imaginar a acontecer que sejam realmente más”.
Assim, pode-se imaginar um milhão de coisas más que nunca deveriam acontecer. É um stock ilimitado de preocupações.
Agora que tem material em potencial para trabalhar, terá de focalizar as suas preocupações. Existem muitas coisas para distraí-lo: trabalho, amigos, família, passatempos, dores, sofrimento, até mesmo o sono. Como manterá a sua mente focada nas preocupações? É fácil. Conte a si mesmo algumas histórias sobre todas as coisas más que poderiam acontecer. Embeleze-as com detalhes. Comece cada frase, sempre que possível, com “e se… ” e depois imagine cada desfecho desastroso que puder. Continue repetindo para si mesmo estas histórias más, tentando a cada vez descobrir se deixou escapar algo importante. Não pode confiar na sua memória. Imagine todas as possibilidades – e então rumine sobre elas. Lembre-se: se é possível, é provável.
E não se esqueça: continue a pensar que se algo de mal pode acontecer – se consegue simplesmente imaginá-lo – então é da sua responsabilidade preocupar-se com isso. Esta é a primeira regra da preocupação.
Mas se algo de mal pode acontecer, o que isso tem a ver consigo? Bem, a segunda regra é: não aceite incerteza alguma – precisa de ter certezas.
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Contudo, estar simplesmente motivado e não aceitar a incerteza não basta para se tornar uma pessoa preocupada. Precisa de evidências de que as coisas possam ficar mal.
Assim, a terceira regra é: trate todos os seus pensamentos negativos como se eles fossem realmente verdade. Se pensa que alguém não gosta de si, provavelmente isso é verdade. Se acha que vai ser demitido, acredite nisso. Se acha que alguém está chateado, então é por sua causa. Quanto mais tratar os seus pensamentos como se fossem realidade, mais conseguirá preocupar-se. Mas por que é que deveria ligar ao que as pessoas pensam a seu respeito ou sobre como está a correr o trabalho? Porque é que isso deveria ter importância para si?
A quarta regra resolve esse problema: tudo de mau que venha a acontecer é um reflexo de quem é como pessoa. Se falha numa prova, é um incompetente. Se alguém não gosta de si, deve ser um falhado. Se o seu parceiro está zangado, deve significar que acabará só é infeliz. É tudo uma questão de quem realmente é.
Porém, algumas coisas não são um bicho-de-sete-cabeças. Porque é que uma perda ou um fracasso deveriam ser tão importantes? Porquê preocupar-se quando se trata de uma pequena perda ou de um pequeno fracasso?
Porque a quinta regra das pessoas altamente preocupadas é: o fracasso é inaceitável. Talvez pense que tudo é responsabilidade sua e, se fracassar, pode ficar preocupado com a possibilidade de todos ficarem a saber e o quanto isso pode ser a prova final de quem é. Pode tornar as suas preocupações tão poderosas quanto possível ao pensar: “Nunca vou conseguir lidar com fracassos”.
Agora as suas preocupações são realmente importantes. Até sabe que são realmente importantes, pois sente como elas o afetam intensamente: apertos no estômago, batimentos cardíacos acelerados, zumbidos nos ouvidos, dores de cabeça, calafrios, noites de insónia.
Agora que percebeu que tem todos esses sintomas, é preciso livrar-se deles imediatamente. E esta é a regra seis: livrar-se de todos os sentimentos negativos imediatamente.Mas espere. Não consegue livrar-se deles? Não estão a desaparecer? Esse é um mau sinal. Deveria ser capaz de se livrar dos sentimentos negativos neste exato momento. Quem sabe no que eles vão se transformar, caso se intensifiquem? Talvez o facto de não conseguir livrar-se desses sentimentos maus signifique que algo realmente ruim vai acontecer. Talvez existam coisas terríveis sobre as quais não tenha pensado. Talvez esteja a perder o controlo. E isso é inaceitável. Isso é algo que precisa de ser tratado tão rápido quanto possível.
Portanto, a sétima regra é: trate tudo como emergência. Não se engane a pensar que pode esperar para lidar com isso. Tudo deve ser resolvido agora mesmo – todos os problemas, todas as
preocupações, tudo. Pode deitar-se na cama e repensar cada um dos problemas que enfrentará amanhã ou no ano que vem e dizer a si mesmo: “Preciso das respostas imediatamente”.
Até aqui, estamos a imaginar histórias más e a trata-las como factos para o motivar a ser responsável e se preocupar. Não aceitará quaisquer incertezas; irá colocar-se no centro de cada situação e será um fracasso. Percebe que as suas emoções devem ser completamente controladas e, assim, tratará tudo como emergência a fim de se livrar de quaisquer sentimentos ou pensamentos negativos.
Agora pode retornar ao sujeito que veio da selva e dizer-lhe que tem as Sete Regras das Pessoas Altamente Preocupadas. Vamos observá-las atentamente e certificar-nos de que temos tudo:
1. Se algo mau pode acontecer – se é capaz de simplesmente imaginá-lo –, então é da sua responsabilidade preocupar-se com isso.
2. Não aceite quaisquer incertezas – precisa de ter certeza absoluta.
3. Trate todos os pensamentos negativos como se fossem realmente verdade.
4. Qualquer coisa má que venha a acontecer é reflexo de quem é como pessoa.
5. O fracasso é inaceitável.
6. Livre-se de quaisquer sentimentos negativos imediatamente.
7. Trate tudo como emergência.
Mas espere. Não se esqueceu de nada?
Não há algo que deixou escapar? Pode realmente confiar na sua memória? Esqueceu-se da coisa mais importante. Esqueceu-se de se preocupar com a preocupação. Esqueceu-se de dizer ao selvagem: “Toda esta preocupação vai deixá-lo maluco, vai provocar um infarte e arruinar completamente a sua vida”.
Como poderia esquecer-se da oitava regra – aquela que diz: “Agora que está preocupado, tem de parar de se preocupar imediatamente ou vai ficar louco e morrer”?
(...)
Preocupamo-nos porque seguimos um livro de regras que pensamos que nos irão ajudae. Pensamos que vamoss egurar as coisas antes que nos escapem das mãos, que nos vamos livrar de quaisquer emoções desagradáveis imediatamente e que vamos resolver todos os problemas. Pensamos que seguire stas regras vai fazer-nos sentirmo-nos mais seguros.
Mas, até agora, não funcionou.
Na verdade, o problema são as suas soluções.
(...)
A preocupação não é simplesmente pessimismo; é o reflexo de muitas partes diferentes de quem somos. Uma vez que compreenda porque se preocupa e porque é que a sua preocupação faz sentido para si, é possível começar a explorar algumas coisas que pode fazer – ou deixar de fazer – para se ajudar.
(...)
Aqui ficam algumas sugestões:
1. Identificar as preocupações produtivas e improdutivas.
2. Aceitar a realidade e comprometer-se com a mudança.
3. Contestar a preocupação.
4. Focalizar a ameaça mais profunda.
5. Transformar “fracasso” em oportunidade.
6. Usar as emoções em vez de se preocupar com elas.
7. Assumir o controle do tempo.
Fonte: The Worry Cure: Seven Steps to Stop Worry from Stopping You by Robert L. Leahy