Quando sentimos que já não estamos a avançar...

terça-feira, 5 de agosto de 2025

Ao longo do processo psicoterapêutico, é natural que surjam momentos em que se instala a sensação de estagnação. O progresso que inicialmente parecia vibrante de entusiamo inicial ou anteriormente parecia evidente torna-se menos claro, e pode emergir a dúvida sobre se a terapia continua a ser útil ou eficaz. Importa sublinhar que esta sensação não representa, necessariamente, um retrocesso ou um fracasso. Pelo contrário, pode sinalizar a necessidade de uma pausa reflexiva, de reajuste e de reavaliação do percurso trilhado até ao momento.

O mês de agosto, com o seu ritmo mais lento e o convite ao descanso, potencia precisamente este tipo de reflexão. Trata-se, para muitas pessoas, de um período de balanço e de questionamento interno: “Onde estou? Como me sinto com o caminho que tenho feito? Ainda faz sentido continuar da mesma forma?” É também nesta altura que pode emergir com maior nitidez a vontade de repensar o processo terapêutico.

Na Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), não se procura uma “cura” no sentido tradicional do termo. O objectivo principal não é eliminar o sofrimento, mas desenvolver flexibilidade psicológica — ou seja, a capacidade de viver de forma significativa, mesmo na presença de dificuldades ou desafios.

Este trabalho de flexibilização apoia-se em três pilares fundamentais:

  • Aceitação – a disposição para acolher experiências internas desconfortáveis, em vez de lutar contra elas;
  • Presença – a atenção intencional ao momento presente, com abertura e curiosidade;
  • Compromisso com os valores pessoais – a capacidade de agir em coerência com o que é verdadeiramente importante, apesar dos desafios.

Quando surge a ideia de que “já não se está a evoluir”, pode ser o momento ideal para:
  • Rever os objectivos terapêuticos iniciais: continuam a fazer sentido? Alinham-se com os valores actuais da minha vida? Já comuniquei esta mudança nas minhas sessões?
  • Reflectir sobre o grau de flexibilidade psicológica já desenvolvido e o que poderá ainda ser fortalecido.
  • Explorar, de forma partilhada e transparente, a possibilidade de uma pausa — não como um fim de algo que na verdade nunca termina, mas como uma transição para um novo capítulo com maior autonomia.
É importante compreender que o processo psicoterapêutico não se desenrola de forma linear. Tendo sempre como direção o desenvolvimento pessoal, pode passar por diferentes fases: momentos de intervenção mais intensa (por exemplo, em situações de crise) e períodos de acompanhamento mais espaçado, que podem ser semanas, meses ou até anos! Este acompanhamento contínuo, mesmo que com menor frequência, pode ser essencial como espaço de reflexão guiada, de sustentação de mudanças e de aprofundamento do trabalho interno — não estando limitado a momentos de sofrimento agudo, em que a intervenção pode até ser, por vezes, mais difícil ou menos eficaz.

Também é possível, em determinados momentos, combinar uma pausa no acompanhamento com a possibilidade de retoma futura, sempre que necessário. Esta flexibilidade permite respeitar o ritmo e as necessidades de cada um, promovendo um maior sentido de responsabilidade e autonomia sobre o seu próprio processo.

Por vezes, essa transição pode incluir igualmente o desejo de procurar outra abordagem, ou até outro profissional. Esta escolha, longe de representar uma ruptura, pode ser vista como uma continuação natural do caminho de autoconhecimento. A relação terapêutica é, sem dúvida, um elemento central da psicoterapia — mas as maiores transformações tendem a acontecer quando há clareza sobre os objectivos terapêuticos e se comunica, de forma aberta, o tipo de mudança que se pretende alcançar. Estas reflexões fazem parte do processo e podem ser discutidas em conjunto, com total abertura e respeito.

Em suma, se sente que o seu processo terapêutico entrou numa nova fase — de pausa, de dúvida, de consolidação ou de redefinição — convido a levar esse tema para a consulta. Muitas vezes, é justamente nos momentos de aparente estagnação que se abre espaço para uma mudança mais profunda.



Inês Vinagre. Com tecnologia do Blogger.

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